HEAVY METAL Investidor

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Índice P/L (Preço/Lucro por Ação)

Texto extraído do antigo site do INI, hoje somente associados tem acesso:

1- O ÍNDICE PREÇO/LUCRO E SUA RELAÇÃO COM A RENDA FIXA


A dinâmica da renda fixa ou da poupança é fácil de entender. Veja um exemplo (ignorando-se os custos de transação e o IR):

Taxa SELIC: 19,75% ao ano
Valor investido: R$ 1.000,00
Valor a receber em um ano: R$ 1.197,50
(Juros + Principal) = R$ 1.000,00 x 0,1975 + R$ 1.000,00

Esse é um processo que faz sentido para o investidor, ou seja, este entrega hoje um valor qualquer para receber, adiante no tempo, esse valor acrescido de juros. Essa é a lógica da renda fixa.Mas, e no mercado de ações, qual é efetivamente o ganho que se obtém pelo investimento feito, visto que, nesse caso, não há promessas de pagamento de juros, não há garantias de valorização do ativo e nem de que a empresa comprada dará algum lucro? Por que investir? O que efetivamente faz com que se possa ganhar investindo em ações?

Bom, vale começar dizendo que é por estes motivos que se diz que o mercado de ações representa um investimento de risco. Mas vamos aprofundar a discussão. Quando o investidor compra R$ 1.000,00 em ações pode esperar duas formas de retorno. A mais direta é proveniente dos dividendos que aquela ação poderá pagar, e representa dinheiro no bolso, e a outra forma é derivada da possível valorização da cotação, ou seja, do preço da ação da empresa na bolsa. Veja um exemplo:

Cotação 31/12/03: R$ 10,00
Valor Investido: R$ 1.000,00
Nº de ações compradas: 100 ações
Dividendos pagos durante o ano: R$ 0,30 por ação
Cotação 31/12/04: R$ 12,00
Novo patrimônio: R$ 1.230,00
(R$ 12,00 + R$ 0,30) x 100 ações

Nesse exemplo, o rendimento foi de 23%, que é mais do que a renda fixa. Mas esse é um caso de crescimento, poderia haver casos de queda na cotação ou de não pagamento de dividendos. Mas, até agora, não se falou diretamente do lucro da empresa. Qual é a relação entre o preço da ação e o lucro da empresa? Para o caso de empresas com crescimento consistente em seus lucros e suas vendas, pode-se entender que os dividendos e o crescimento da cotação estejam intimamente ligados ao lucro. Em princípio, considerando que não haja oscilações muito bruscas no mercado, um crescimento consistente nos lucros deve se refletir num crescimento, também consistente, da cotação e dos dividendos.

É claro que essa relação não é direta, pois o preço de mercado de uma ação não reflete somente a atuação da empresa, constrói-se, também, a partir das percepções dos investidores, da disponibilidade de recursos, do interesse dos investidores estrangeiros e institucionais, da conjuntura macroeconômica, da conjuntura internacional etc. De qualquer forma, um crescimento no valor do mercado de uma empresa também guarda uma relação importante com os frutos de sua operação, seus lucros, suas receitas e sua
geração de caixa.

Para entender essa relação, um importante indicador é o índice preço-lucro (P/L), cuja fórmula está descrita a seguir.

Índice Preço-Lucro (P/L) = (Preço)/(Lucro por ação-LPA)

É possível pensar que o retorno do investidor em ações seja o lucro da empresa, mesmo que esse lucro não se materialize em dinheiro. Ou seja, se ele investiu R$ 70,00 reais em uma ação e o LPA naquele ano foi R$ 7,00, pode-se entender que aquele foi o acréscimo ao patrimônio do acionista naquele período. Pode-se entender, também, que a relação entre o preço e o lucro indica de forma simplificada em quanto tempo o investimento deverá retornar integralmente seu investimento. Veja um exemplo:

Cotação = R$ 200,00; 
LPA = R$ 20,00; 
P/L = 200/20 = 10

Ou seja, investi R$ 200,00 e preciso de 10 vezes esse lucro de R$ 20,00, para ter todo esse investimento de volta, ou seja 10 anos. Naturalmente isso é um entendimento simplificado do assunto, porém elucidativo e bastante difundido no mercado. Nesse momento, o investidor já pode identificar a relação entre P/L e renda fixa. A explicação é simples. Se pensarmos o P/L da maneira exposta anteriormente, teremos um equivalente para a renda fixa. Para tanto, basta dividir 100% (que representa o total investido) pela taxa utilizada, por hipótese, 19,75% (que representa o montante de juros pagos em cada período). Isso daria um P/L de 5,06, significando que, considerando juros simples, o investimento retornaria em 5,06 anos. Se estivessemos falando do mercado americano, onde os juros de renda fixa ficam em torno de 2% ao ano, qual seria o P/L? Simplesmente 100/2 = 50, ou seja, em juros simples, a pessoa levaria 50 anos para ter o retorno do capital investido.

Em compensação, como a renda fixa não é tão atraente, os americanos estão mais propensos a investir em ações, pois, apesar do risco, os retornos esperados são significativamente maiores do que os da renda fixa. No Brasil, com altas taxas de juros, dificilmente as pessoas estariam dispostas a pagar por uma ação com P/L elevado, pois teriam a opção da renda fixa a P/L 5,06. É importante ressaltar que isso não é uma regra rígida. Há empresas brasileiras que apresentam P/L alto e, ainda assim, vêm sendo boas opções de investimento.

Entre outros, esse é um motivo pelo qual o mercado acionário sofre com a alta de juros. Entendendo o investimento em renda fixa como mais atraente, o investidor fica menos propenso a investir em renda variável (ações) e o mercado tenderia a ajustar os P/Ls para baixo, ou seja, reduzindo o P (preço) na relação. Como os preços acabam ficando baixos, em relação aos lucros, não há estímulo para as empresas distribuírem ou emitirem mais ações, ficando mais atraente pedir financiamento no exterior, aumentando a dívida externa brasileira e a nossa vulnerabilidade externa. Afinal, se uma empresa registra um LPA de R$ 10,00 e sua ação está cotada a R$ 40,00, significa que o valor integral de mercado dela é, somente, 4 vezes o seu lucro, ou seja, ela estaria remunerando o investidor em 25%.



2 - O ÍNDICE PREÇO-LUCRO É FUNÇÃO DOS FUNDAMENTOS DA EMPRESA, DO MERCADO OU DE AMBOS? 


No artigo anterior mostrou-se que uma bolha se forma a partir de ativos com preço excessivamente alto, inflados artificialmente, e que um dos indicadores para se identificar esses preços altos seria o P/L. Na metodologia INI o P/L desempenha papel importante, pois ele é o indicador que, multiplicado pela expectativa de lucro no futuro, nos dará uma indicação da possível cotação a que a empresa atingirá no futuro. Ocorre que há empresas com P/L 6 e, no mesmo setor, há empresas com P/L 18. Por quê? É o que vamos investigar neste artigo.

Relembrando: O que é P/L?

P/L é a sigla para Índice Preço-lucro, que mede quantas vezes o preço da ação (cotação) é maior do que seu lucro por ação OU quantas vezes o preço de mercado da empresa é maior do que seu lucro anual.

Veja os exemplos:

EMPRESA CVRD Lj. Americanas Copel Gerdau Sadia Light 2007*
Valor de Mercado (28/12/2006) R$ milhões 1 47.466 8.659 6.334 22.434 4.890 3.081 84.864
Lucro líquido 2006 R$ milhões 1 3.431 123 1.242 2.880 376 (150) 5.054
P/L 11,0 70,4 5,1 7,8 13,0 ND 16,8

A lógica é a seguinte: Para “comprar” um lucro de 13,4 bilhões de reais da CVRD, eu teria que desembolsar 147 bilhões, ou seja, 11 vezes o lucro. É claro que a comparação entre a cotação (valor de 1 ação) e do lucro por ação (também referente a 1 ação) tem o mesmo resultado e a mesma lógica.

3- O QUE INFLUENCIA O P/L?

Podemos entender o P/L como uma medida do “apetite” do investidor por comprar as ações. Se este vem se elevando, é porque os investidores estão pagando mais “caro” pelas ações do que anteriormente, seja por que suas opções fora da renda variável estão menos atraentes, seja por que ele acredita que o lucro da empresa crescerá fortemente nos próximos anos.

Pensando de forma simples, responda: Qual é a opção de investimento que se tem em relação à renda variável? Fácil: Renda fixa, ou seja, CDB, fundos DI, poupança, previdência privada sem renda variável entre outros. Se a opção mais rentável em renda fixa for, por hipótese, um fundo DI com taxa de administração de 0,5%, qual seria o ganho previsto, já descontando o IR? Daria pouco mais de 8%, para arredondar 8%. Com 8% ao ano, em quantos anos você retornaria o capital, se retirasse o lucro ano a ano? Simples: 100% / 8% = 12,5 anos. Esse, para fins de comparação, pode ser considerado o P/L da renda fixa. 

O P/L da renda fixa não é um indicador utilizado nos meios profissionais, mas será útil para o investidor comparar opções de investimento em renda fixa e em renda variável. Um parêntese. Quase todos consideram que é bom para a bolsa quando os juros caem. Um dos motivos para essa percepção é que a opção “sem risco” dos investidores fica menos atraente, ou seja, seu P/L da renda fixa aumenta, permitindo que se pague um pouco mais pela opção em renda variável, ou seja, pelas ações em bolsa. Pense: Se os juros estivessem em 25% ao ano, com inflação de 3%, você acha que tantas pessoas estariam buscando a bolsa como alternativa de investimento? Bom, parece que o passado responde por si.

Se o P/L da renda fixa está em 12,5 por que há tanta variação nos múltiplos das empresas? Primeiro, o “P/L da renda fixa” é um indicador proposto para sabermos o que seria um retorno “razoável”, tomando por base os investimentos alternativos à bolsa. Não significa que ele deva ser seguido, apesar da evidência óbvia de que juros altos desestimulam o investimento em bolsa. Segundo, há muitos fatores que influenciam o P/L de uma empresa e, alguns deles, serão tratados a seguir.

P/L próximo do da renda fixa

Quando se encontra uma empresa com P/L próximo dos 12,5 (oscilando entre 10 e 14,5, por hipótese), é provável que seu desempenho seja bem regular, seus lucros futuros possam ser previstos pelos analistas com pouca margem de erro e entende-se que o crescimento no longo prazo desses lucros não será exageradamente alto.

P/L muito mais baixo do que o da renda fixa

Normalmente indica que o lucro deverá cair ou que a empresa representa um risco alto. Se os investidores não estão dispostos a comprar ações, mesmo com P/L baixo, é porque não acreditam que o lucro permanecerá alto. Pode ser que a empresa tenha dado um lucro extraordinariamente alto, por conta de algum evento não recorrente como a venda de um ativo ou algum benefício fiscal extraordinário. Quando isso ocorre, o lucro sobe muito, mas o preço não acompanha, pois o evento não faz parte do dia-a-dia do negócio. Outra hipótese é não confiar no gestor ou no controlador, fazendo com que o investidor só entre na empresa se seu preço estiver muito descontado, pois o risco é alto.

P/L muito mais alto do que o da renda fixa

Comumente indica que a perspectiva dos investidores é de que o lucro cresça a taxas muito acima das do mercado. Para se ter uma idéia do impacto de uma expectativa positiva sobre o lucro de uma empresa veja: se os analistas supõem que o lucro da empresa crescerá 60% ao ano pelos próximos 5 anos, isso indica que o lucro crescerá 10 vezes. Nessa hipótese, já antecipando o crescimento, o analista sugere um preço muito alto para a empresa. Ocorre que esse preço já inclui o crescimento futuro, por isso é tão alto o P/L, pois é comparado com o lucro de hoje. E se não ocorrer o crescimento esperado? Os preços se ajustam durante o caminho. Pode acontecer também, de a empresa apresentar um resultado extraordinariamente ruim, mas por algum problema não-recorrente. As empresas do ramo de alimentos enfrentaram a gripe aviária e embargos de exportação de carne em 2006 e viram seus lucros caírem bastante. Como os eventos não eram recorrentes, as cotações não se depreciaram tanto, porém, como o lucro era muito mais baixo, o índice P/L ficou alto, fora do padrão histórico das empresa, da média do mercado e da própria renda fixa.

P/L de ações com prejuízo

Nesse caso não se aplica o conceito P/L. Se a empresa vinha de lucros crescentes e, por algum motivo, começou a dar prejuízo, devem-se estudar esses motivos para avaliar se ainda se pode confiar no fluxo futuro de lucros, pois se não voltarem, a cotação será penalizada no futuro. Os riscos de investir em empresas com prejuízos recorrentes são maiores. É melhor deixar para o campo da especulação.

Para encerrar...

É evidente que o que foi posto acima tem um valor didático maior do que a precisão técnica, ou seja, é uma maneira simples de entender o mercado e esse importante indicador de mercado, o P/L. Não se deve seguir uma regra rígida quanto aos P/L, pois sempre há mais informações do que podemos ver.

O P/L é uma propriedade do mercado na medida em que está sujeito às oscilações nas alternativas de investimento, mas também é uma propriedade da empresa quando espelha as perspectivas dos analistas e dos investidores. Aos usuários do método INI, um alerta: no intervalo de 5 anos que utilizamos para nossas avaliações, as expectativas de crescimento já devem, de alguma maneira, ter se manifestado ou não, portanto não faz sentido sugerir um intervalo de P/L máximo e mínimo muito alto (ou baixo) no longo prazo. 




ROE - Return on Equity

 Outro texto retirado do antigo site INI, sobre ROE (que em português chamamos de "Retorno sobre o Patrimônio Líquido"):



DE FORMA RESUMIDA, RETORNO SOBRE O PATRIMÔNIO LÍQUIDO "indica quanto a empresa teve de lucro para cada unidade monetária de Capital Próprio investido" (DOS ACIONISTAS). "Mede o retorno do capital investido pelos acionistas (patrimônio líquido). O indicador é calculado como sendo o quociente entre o lucro líquido da empresa e o seu patrimônio líquido. O cálculo do lucro líquido considera os últimos quatro demonstrativos de resultado trimestral, trabalhando no conceito de média móvel, dividido pelo patrimônio líquido médio no período". 


TEM UM RELAÇÃO PARECIDA COM O P/L QUANTO AO PRAZO PARA RETORNO DO CAPITAL INVESTIDO NA EMPRESA PELO ACIONISTA EM ANOS. NUMA EMPRESA COM RETORNO SOBRE PATRIMÔNIO LÍQUIDO DE 25%, VC LEVARIA 4 ANOS PARA RECEBER DE VOLTA 100% DO SEU CAPITAL INVESTIDO.


"Você sabe realmente o que quer dizer Retorno Sobre o Patrimônio Líquido?" 


Extremamente fácil de calcular, o Retorno sobre o Patrimônio Líquido, (ou do inglês “Return On Equity” - ROE) é uma arma poderosa no arsenal do investidor, se ele conseguir entender exatamente para que serve. O Retorno sobre o Patrimônio Líquido engloba três “alavancas” a disposição da administração para acelerar ou desacelerar uma empresa: a lucratividade; a administração de ativos; e a alavancagem financeira. Entendendo o Retorno sobre o Patrimônio Líquido como uma composição dessas três alavancas a disposição da administração, os investidores poderão ter uma boa idéia do tipo de Retorno sobre o Patrimônio Líquido que poderão esperar, e da capacidade administrativa da empresa.

O Retorno sobre o Patrimônio Líquido é calculado dividindo-se o lucro obtido naquele ano pelo Patrimônio Líquido Médio do mesmo ano. O Lucro vem do Demonstrativo de Resultados e o Patrimônio Líquido do Balanço Patrimonial, que estão disponíveis gratuitamente no site da CVM. (existem outras variações como, por exemplo, utilizar o Patrimônio Líquido do ano anterior, ou o Lucro médio dos últimos cinco anos. Os lucros podem também ser anualizados. Uma forma de estimá-los é somar os quatro últimos resultados trimestrais disponíveis. Os investidores devem ter cuidado para não anualizar resultados de um negócio sazonal onde todos os resultados estão concentrados em um ou dois trimestres).

Patrimônio Líquido é a diferença entre Ativos e Passivos existentes no Balanço Patrimonial. Assumimos que esses ativos (sem os passivos correspondentes) são função direta do capital que o acionista colocou no negócio originalmente, assim que ele foi criado. Logo, o Patrimônio Líquido é uma convenção contábil que representam os ativos que foram gerados pelo próprio negócio. 


A forma mais comum de encontrarmos o Patrimônio Líquido é na forma de valor patrimonial por ação. Valor patrimonial por ação é o Patrimônio Líquido total dividido pelo número de ações existentes. Um valor contábil do negócio que não leva em consideração seu valor econômico intrínseco nem seu valor de mercado. Um negócio que cria bastante Patrimônio Líquido é um bom negócio porquê os investidores que criaram o empreendimento poderão ser recompensados pelos resultados auferidos pelas operações do negócio. Um negócio que possui alto Retorno sobre o Patrimônio Líquido é um negócio que paga condignamente os seus acionistas, criando ativos substanciais para cada real investido. Esses negócios são auto-sustentáveis, pois não necessitam de empréstimos ou investimentos adicionais em Patrimônio para continuar funcionando.

Uma das maneiras mais fáceis de verificar se uma companhia é criadora de ativos ou consumidora de caixa, é olhar para o Retorno sobre o Patrimônio Líquido que ela gera. Comparando os lucros gerados com o Patrimônio Líquido é possível verificar quanto de lucro ela produz em cima dos ativos existentes. Se o retorno de uma firma é de 20% então, ela gera 20 centavos de novos ativos para cada Real investido originalmente. Como reinvestimentos na firma aumentam os Ativos no Balanço Patrimonial, se aumentarmos os investimentos em uma firma, estaremos aumentando seus ativos e, para ela manter ou aumentar o ROE, ela terá que aumentar também os lucros 

Se o Retorno Sobre o Patrimônio Líquido é só:

ROE = Lucro de um ano / Patrimônio Líquido Médio

...onde está a margem líquida, a administração de ativos e a alavancagem financeira? Se nós expandirmos a equação, causando alguns “flashbacks” indesejáveis de álgebra em alguns investidores, poderemos começar a levar em consideração as outras variáveis.

Lucros de um ano Vendas de um ano Ativos 

ROE = ----------------------- * ------------------------ * --------------------------

Vendas de um ano Ativos Patrimônio Líqu.


Como as Vendas e Ativos estão tanto no numerador como no denominador da equação, eles se cancelam (aqueles que tiveram problemas com álgebra terão que acreditar em mim). Quando nós quebramos essa equação dessa forma, surgem os três componentes do Retorno sobre o Patrimônio Líquido: Lucros / Vendas é chamado de margem Líquida; Vendas / Ativos de Giro de Ativos; e Ativos / Patrimônio Líquido de alavancagem financeira. Cada um desses componentes será discutido abaixo. Depois de completarmos nossa análise, voltaremos ao Retorno sobre o Patrimônio Líquido e explicaremos como esse número pode ser empregado para avaliar uma determinada companhia e mostraremos suas limitações como ferramenta analítica. (NT – A margem liquida *Giro de ativos é conhecido como ROA - “Return On Assets”)

1) Margem de Lucros (Pricing)

Precificar corretamente um produto ou serviço para obtermos maiores lucros e volume de vendas é um processo importante para o sucesso de qualquer empresa. Será que a decisão da Coca-Cola de vender seu refrigerante em galões de oito litros por $20 seria correta? Embora ela pudesse ganhar um pouco mais com essa embalagem porquê seria a solução mais econômica em termos de litros engarrafados, seria muito difícil imaginar quanto isso realmente ajudaria as vendas da empresa. Um motorista normal que parasse na loja de conveniência de um posto de gasolina não teria espaço vago no carro para um galão de oito litros. A compra do galão de Coca ficaria restrita a usos residenciais, em festas e estabelecimentos comerciais. 

Nas modernas corporações o “Pricing” se situa na esfera do "marketing". Equilibrar lucro com volume de vendas é a matéria-prima de trabalho de pesquisadores de mercado, promotores de produtos e executivos do alto escalão. Mas, mesmo todo o volume de vendas do mundo não significará nada para os acionistas se não puderem ser transformados em lucro. Assim, o farol dos setores de vendas e marketing no mundo dos negócios é precificar um produto de forma que ele se torne o mais lucrativo possível e ainda consiga gerar um crescimento de vendas estável. Nessa equação, a margem de lucro é uma das formas mais fáceis de sabermos se uma empresa está ou não passando no teste da lucratividade. 

A margem líquida são Lucros divididos por Receitas (ou Vendas), num mesmo período. As margens de lucro são o dinheiro que sobra depois do pagamento de todos os custos necessários para se fazer o negócio. Os administradores que conseguem aumentar a margem de lucros estão conseguindo controlar seus custos, eliminado as ineficiências existentes, ou terminando com projetos não lucrativos dentro da firma. Embora seja possível para a administração diminuir custos até mesmo cortando gastos com o desenvolvimento de pesquisas necessárias ao desenvolvimento do negócio, para a análise do Retorno sobre o Patrimônio Líquido, uma margem de lucros maior significa um maior Retorno sobre o Patrimônio Líquido.

A margem de lucros é também um bom indicador do grau de concorrência inerente ao negócio. Indústrias competitivas como mercados ou empresas do varejo tendem a ter uma margem de lucros muito baixa. Isso porquê não é tão difícil assim entrar nesse ramo de negócios. Já ferrovias, que operam num setor de semimonopólio em pontos de escoamento de comodities, tendem a ter uma margem significativamente maior. As margens podem nos informar se a companhia é proprietária de um bom produto, serviço, ou de uma “marca” estabelecida no mercado e, por isso mesmo, aptas a carregar um prêmio extra no preço praticado. Também pode informar se a companhia se situa em um ramo que usufrui de um monopólio ou é parte de um oligopólio sobre algum tipo específico de bens ou serviços.

Sem a presença de uma “fossa com crocodilos” ao redor do negócio, as altas margens de lucro tendem a deteriorar-se rapidamente com a entrada de novos concorrentes. Uma marca global como a Coca-Cola com um sistema de distribuição massivo, que consegue levar seus produtos aos consumidores nas formas e tamanhos mais variados, torna-se um muro alto a se transpor para novos concorrentes. Foi exatamente isso que a Cott Corp. descobriu no início da década de 90. A Coca-Cola poderia abaixar seus preços até um ponto em que a Cott teria graves problemas para conseguir colocar seus produtos nas prateleiras dos supermercados com algum lucro. Enquanto isso, a Coca ainda conseguiria se manter em pé com os outros segmentos da sua carteira de negócios, tais como vendas a restaurantes, vendas para outros países, conseguindo suportar bem a dor para manter seu “market share”. 

Raramente se consegue uma alta margem de lucros sem um modelo de negócios estável como o da Coca-Cola ou, sem conseguir um status de semimonopólio ou oligopólio como o existente nas ferrovias. Uma ferrovia como a Norfolk Southern possui muito pouca concorrência nas regiões do território americano aonde atua. A necessidade de um investimento inicial muito alto para entrar no negócio garantiu a companhia um certo grau de monopólio em algumas regiões geográficas. Infelizmente, como iremos explorar mais tarde, as altas margens da Norfolk Southern são acompanhadas por um Giro de Ativos muito baixo, limitando o Retorno sobre o Patrimônio Líquido. A grande maioria dos negócios tradicionalmente de margem alta é acompanhada por um Giro de Ativos baixo, o que significa dizer que, possuem um limite natural de produção sem incorrer em custos adicionais para expandir o negócio, que acabariam acarretando numa redução das margens de lucros. 


2) Giro de Ativos

O Giro de Ativos é um dos fatores que os investidores tem maior dificuldade para compreender. Quando poderemos dizer que uma companhia que ganha tantos reais por ativo, está indo melhor que a outra? Fica mais fácil de responder se olharmos para a administração de ativos no contexto do Retorno sobre o Patrimônio Líquido. É fácil perceber que aumentar a produção de uma siderúrgica é muito mais caro que aumentar a produção de fumo pela Souza Cruz. É óbvio que uma siderúrgica necessita ter maiores lucros por unidade, já que a produção de aço é muito menor que a de cigarros. É óbvio que a concorrência de cigarros deve ser maior, logo o seu preço tem que ser competitivo. Então começamos a perceber, de longe, a inter-relação existente entre a margem de lucros e a administração de ativos. 

Ao olharmos para as margens de lucro da Norfolk Southern (NYSE: NSC) podemos supor que ela seja um negócio bastante sólido. A companhia gerou uma margem líquida de 15,7% nos quarto últimos trimestres em cima de vendas de $4.7 bilhões. Comparada com as companhias da bolsa que geram em média uma margem de 7 a 8% e a média de todas companhias americanas que fica em torno de 2 a 3%, a Norfolk parece ser um excelente negócio. Com 15.000 milhas de malha ferroviária cortando 20 estados do Centro-Oeste e Sul dos Estados Unidos, a companhia compete apenas contra um ou dois concorrentes no negócio ferroviário. Um belo oligopólio. Sendo a margem líquida um componente tão crítico do Retorno sobre o Patrimônio Líquido, essa deve ser uma vantagem substancial para a empresa, certo? 

Pode ser que sim, pode ser que não. Embora as margens de lucro sejam um elemento crucial na equação do Retorno sobre o Patrimônio Líquido, as vendas geradas por cada dólar de ativos também possuem importância muito grande. A Norfolk Southern tem $12.4 bilhões de ativos listados no seu Balanço Patrimonial do último trimestre, mas gerou apenas 38 centavos para cada dólar de ativos que possui. Só para efeito de comparação, a Dell Computer (Nasdaq: DELL) gerou $8.7 bilhões de vendas em cima de $3.2 bilhões de ativos no ano passado, o que equivale a $2,71 de vendas para cada dólar de ativo empregado. Gerar mais vendas em cima de menos ativos, significa comprometer menos capital gerado pelo próprio negócio em novos ativos. O termo “capital intensivo” refere-se literalmente à forma como alguns tipos de negócio necessitam de mais capital para funcionarem do que outros. Comparando essas duas companhias e seus índices Vendas/Ativos fica claro que a Norfolk Southern é mais “capital-intensiva” que a Dell Computer.

A administração de ativos é, provavelmente, um dos fatores mais difíceis de serem avaliados por investidores individuais. Obviamente, você pode comparar o giro de ativos de várias companhias dentro de uma mesma indústria. Mas quando poderíamos dizer que tanto de vendas por de ativos é bom ou ruim, empregando apenas a análise comparativa? Olhar para o giro de ativos dentro do contexto do Retorno sobre o Patrimônio Líquido permite que o investidor possa contrapor a habilidade de uma companhia na administração de seus ativos com a margem de lucros e a alavancagem financeira empregada, para avaliar se aquele é um bom negócio ou não.

Fica difícil argumentar com uma margem líquida que uma empresa ferroviária como a Norfolk Southern consegue gerar. Mas, em compensação, a companhia tem que gastar milhões de dólares só para manter a margem de lucros. O negócio não é tão excitante para o investidor quanto poderia ser. Isso, porquê a Norfolk tem que conservar milhares de milhas de sua malha rodoviária e centenas de trens, colocando mais e mais dinheiro nos seus ativos somente para manter suas vendas. Isso quer dizer que ao invés da retornar o dinheiro gerado pelo negócio para os investidores, a Norfolk tem que reinvesti-los em ativos apenas para continuar funcionando. Apesar disso, a Norfolk gera um bom fluxo de caixa. Mas, se conseguisse melhorar suas vendas por ativos geraria toneladas de dinheiro. 

Há quarto trimestres atrás, a Dell Computer chegou à conclusão que uma forma de aumentar o retorno do acionista seria melhorar sua política de administração de ativos. Ela percebeu especificamente que poderia administrar mais eficientemente seu estoque de componentes de micros, aumentando o Retorno sobre o Patrimônio Líquido. Como os estoques e as contas a receber são os dois ativos mais significativos nas contas da Dell, diminuindo o valor desses ativos a companhia poderia aumentar suas vendas por ativos e, conseqüentemente, aumentar o Retorno sobre o Patrimônio Líquido. O dinheiro que anteriormente ia para o estoque para gerar um dólar de vendas diminuiu, deixando a Dell com mais caixa livre no Balanço Patrimonial para recomprar suas próprias ações do Mercado. 

Como a Dell focou em vendas diretas desde sua criação, a companhia sempre precisou de menos capital que seus concorrentes que empregavam o canal de vendas indiretas, como é o caso da Compaq. Apesar disso, a companhia só mergulhou na administração de ativos há cinco trimestres atrás, quando sua ação despencou com o receio de uma queda generalizada nas vendas de micro-computadores, no início de 1996. O Chairman da empresa, Michael Dell, possui um percentual enorme nas ações da companhia. Ele sabia que sem alguma mudança radical, a Dell sempre seria negociada entre 11 e 12X seus lucros, porquê a percepção geral era que ela se situava numa indústria de margem baixa dentro de um setor de comodities. A questão seria como a Dell Computers poderia mudar a forma como as pessoas viam seu modelo financeiro de forma a aumentar o valor da companhia? 


Michael Dell concebeu um plano ambicioso e sensacional. Ele se lançou no negócio de servidores que possuem altas margens, aumentando a margem do negócio como um todo e eliminando concorrentes como a Compaq. Ao mesmo tempo, ele estaria aumentando o número de vezes que o estoque passaria a girar no ano. O Giro de Estoque é uma das medidas mais importantes da administração de ativos, e que os investidores podem calcular facilmente. Divida o Custo dos Produtos Vendidos pelo estoque residual no final do ano (NT – Ou, se preferir, pelo estoque médio), e o investidor visualizará quantas vezes o estoque “foi girado” naquele ano. Como a Dell aumentou seu giro de estoque, seriam necessários menos ativos para gerar um dólar de vendas, aumentando a quantidade de caixa disponível para fazer outras coisas. No Caso da Dell, a parte crucial desse plano foi empregar esse excesso de caixa para recomprar suas ações no mercado que estavam sub-avaliadas, aumentando o crescimento do lucro por ação das ações residuais. 

A Dell Computer é um caso clássico de como uma boa administração de ativos pode aumentar o retorno do acionista. Uma boa administração de ativos pode aparecer sob a forma de acréscimo de margens, mas, altas margens sozinhas não são garantia de nada. Para conseguir o Retorno sobre o Patrimônio Líquido alto, os investidores devem procurar por negócios que possuam além de margens altas, um grande giro de ativos, seja nas vendas por ativos, no giro de estoque, no prazo de recebimento, nos prazos de pagamento ou no giro dos ativos fixos. A última parte a equação do Retorno sobre o Patrimônio Líquido que influencia o retorno final é a alavancagem financeira. 


3) Alavancagem


Vamos dizer que sua margem esteja diminuindo e seu giro de ativos já não é mais o mesmo de antigamente. Sabendo que os diretores na Templar's Treehouses (Nasdaq: TREES) irão remunerá-lo baseado no Retorno sobre o Patrimônio Líquido que você estará gerando, como você poderia fazer para aumentá-lo? Alavancagem, meu amigo, alavancagem. Alguns poucos milhões de dólares em dívidas de longo-prazo poderão acrescentar um pouco de Capital de Giro a seu Balanço Patrimonial e, de repente, o giro de ativos não parecerão mais ser problemas. Esse capital permitirá também que você expanda suas operações, empurrando mais produtos na pequena margem aumentando os lucros em relação ao mesmo Patrimônio Líquido. Alavancagem é a resposta - Na verdade, alavancagem, para muitas pessoas, é o “American way”. 

Viemos explorando o Retorno sobre o Patrimônio Líquido como se fosse uma lente de aumento através das qual poderíamos analisar um negócio. Na parte um, discutimos a equação do Retorno sobre o Patrimônio Líquido e como é possível enxergá-lo pelas suas três partes: margem líquida, administração de ativos e alavancagem. Na parte dois discutimos a Margem Líquida e suas duas irmãs: a margem bruta e a margem operacional. Uma vez que o ROE é apenas o lucro dividido pelo Patrimônio Líquido, se você aumentar a margem líquida você aumentará conseqüentemente os lucros. Aumentar os lucros sem aumentar o Patrimônio Líquido produzirá um “efeito dominó” sobre o ROE, aumentando-o também. Na parte 3 falamos sobre a administração de ativos e como um maior emprego dos ativos no negócio deixará mais dinheiro livre para o estoque de lucros, aumentando o Retorno sobre o Patrimônio Líquido. Agora vamos focar na terceira perna do ROE, chamada alavancagem - Uma palavra rebuscada para dívidas.

Muitas pessoas vão dizer a você que assumir dívidas não é uma boa. Parece que a maioria dessas pessoas compra a casa própria à vista. Mas, para todo o resto do mundo, dívidas são como qualquer outra coisa. É claro, que com moderação, porquê excesso não é uma boa idéia. Como qualquer pessoa que já teve uma dívida alta com cartões de crédito poderá lhe atestar, as dívidas parecem alimentar-se de si mesmo, crescendo a enormes proporções com muito pouca comida e água. Quando uma companhia se endivida, ela aumenta a quantidade de capital que possui a sua disposição para financiar tudo àquilo que, a primeiras vista, desejar. Ao contrario do Patrimônio, as dívidas carregam consigo um custo direto chamado “juros” que come a lucratividade da empresa. Assim, se você pegar um empréstimo de $500 poderá, de uma hora para outra, produzir 1.200 itens a mais por dia. Embora sua margem nesses itens extras cairá de 10 para 5%, porquê os juros sobre a dívida lhe comerão 5%, significando que os ganhos adicionais se tornaram agora incrementais. 

O problema em alavancar uma companhia como uma forma de aumentar o ROE é que, depois de um certo ponto, os custos da dívida diminuirão as margens e o giro de ativos. Embora existam diversos casos em que dívidas façam sentido, não é uma coisa que a administração queira elevar a valores cada vez mais altos, como é o caso da lucratividade e do giro de ativos. De fato, lucros atrelados a endividamentos são muito mais arriscados do que lucros gerados através de patrimônio, particularmente se o negócio está amarrado a algum ciclo econômico, formato ou forma. Normalmente, uma companhia que é financiada completamente por patrimônio líquido pode se recuperar de uma queda, mas uma companhia que é financiada por dívidas pode não se sair tão bem assim na mesma situação. 

Embora pareça que isso esteja relacionado com teorema de Modigliani e Miller, ganhadores do Prêmio Nobel, que pregam que o valor de mercado de uma firma é independente da sua estrutura de capital, na prática, me parece que os investidores pagam menos por firmas que geram lucros com alavancagem. Existem boas explicações para isso, a mais plausível é que o endividamento aumenta o risco que a companhia seja afetada por uma queda cíclica, esse risco é descontado no preço que os investidores estariam dispostos a pagar por lucros futuros. Colocando isso de uma maneira mais clara, como as dívidas aumentam as possibilidades de falência, os investidores são mais cautelosos sobre o preço que podem estar pagando por um papel. Somente isso já seria suficiente para evitar que os administradores maximizassem a alavancagem para aumentar o ROE, já que isso teria o efeito colateral de diminuir o preço do papel. 

É muito mais fácil verificarmos se uma companhia está alavancada do que um fundo de investimento. Os índices mais comuns são os: Dívidas/Ativos, Dívidas/Capital Total, Dívidas/Patrimônio Líquido, Dívidas/Valor de Mercado, e o Dívidas/vendas. Todos esses índices comparam o total de dívidas à outra parte relevante do demonstrativo de Resultados ou do Balanço Patrimonial. Na ordem descrita nos índices acima, eles são respectivamente, Ativos Totais, Patrimônio Líquido, Patrimônio Líquido mais Dívidas de longo-prazo (Capital Total), Capitalização de Mercado, e as vendas dos últimos 12 meses. Nesse ponto, alguns investidores devem estar secos para encontrar uma regra geral que diga alguma coisa como: “as dívidas não devem ultrapassar mais do que 20% do Patrimônio Líquido”. A realidade é que regras genéricas como essas são, como seu nome já diz, genéricas. Existem milhões de motivos pelos quais determinada companhia pode querer violar uma dessas regras genérica e muito poucos para recomendá-las a não ser o fato que companhias que se guiam por regras gerais tendem a sair do negócio menos freqüentemente. 

A melhor maneira de se analisar a alavancagem de uma companhia é olhar para a tendência de suas dívidas em comparação com o ROE para saber se a companhia está conseguindo manter o ROE aumentando seu endividamento. Esse é um dos primeiros sinais que um modelo de negócio está ruindo: a companhia substitui margens crescentes e uma maior eficiência na administração de ativos por mais e mais dívidas, de maneira a manter o mesmo nível de retorno para o acionista. Um outro ponto importante para se verificar é se a companhia conseguirá ou não suportar o endividamento. Comparando os lucros antes dos impostos (EBIT) com a despesa com juros você encontrará o índice juros/lucros. Você usa o EBIT ao invés dos lucros porquê os juros não são tributáveis, e se você mantivê-lo no pagamento de juros, ele entrará duas vezes na fórmula. 

Lucros antes dos 
Juros e impostos (EBIT)
Taxa de Cobertura de Juros = ---------------------------------------------
Despesa com Juros


Esse índice informa literalmente quantas vezes a companhia poderia ter pago de juros em cima do débito assumido. Novamente, não existem regras fixas a seguir, do tipo: “os juros devem ser cobertos 10 vezes”. Quanto maior for o número, melhor a companhia conseguirá suportar a dívida. Esse número vai começar a cair a não ser que a companhia tenha dinheiro sobrando em seu Balanço Patrimonial ou capacidade de empréstimo ociosa. A parte arriscada da equação começa a crescer, reduzindo o preço da ação no Mercado. O negócio em que a companhia está envolvida também produz efeito, assim como se os lucros do negócio forem muito cíclicos e bastante voláteis você deve querer que a cobertura de juros fique acima da média.

Após obtermos um melhor entendimento da margem líquida, da administração de ativos e da alavancagem, tentamos juntá-las num conjunto para melhor analisarmos uma companhia específica. Nós também cobriremos a parte fraca do Retorno sobre o Patrimônio Líquido, sugerindo possíveis alternativas tais com o Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) ou Retorno sobre Lucros Operacionais (ROO) como substitutos potenciais.


Um Exemplo:

Entendendo realmente o que vai por trás de um número simples como o Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), ele torna-se uma lente de aumento através da qual podemos analisar companhias. O Retorno sobre o Patrimônio Líquido é uma combinação entre margem líquida, administração de ativos e alavancagem financeira. Quebrando o Retorno sobre o Patrimônio Líquido nessas três partes possibilita não apenas sabermos que tipo de retorno está sendo gerado sobre o Patrimônio Líquido, mas, também, examinar a qualidade desse retorno e verificar qual a alavanca a administração está puxando para criá-lo. De fato, essa forma de enxergar o Retorno sobre o Patrimônio cria uma variedade de índices que permitem ao investidor compreender como o negócio está sendo administrado.

A USA Detergents (Nasdaq: USAD) representa excelente exemplo de como a análise dos componentes da equação do Retorno sobre o Patrimônio Líquido pode levar a conclusões completamente diferentes do que olhar somente para o ROE. Em 1996, a USA Detergents gerou um Retorno sobre o Patrimônio Líquido de 21,5%, um pouco alto para uma companhia do ramo de detergentes. Em 1994 o ROE era de 72,6% e, em 1995 caiu para 34,6%. Olhando para o Demonstrativo anual, um investidor poderia ficar sem entender porquê o Retorno sobre o Patrimônio Líquido ter caído tanto em 12 meses e procuraria saber o que foi explicado pela companhia. 

A primeira parte da análise é olhar para a margem de lucros. A USA Detergents obteve uma receita de $68.7 milhões em 1994, $104.9 milhões em 1995, e $174.0 milhões em 1996. A companhia lucrou $4.3 milhões em 1994, $7.0 milhões em 1995, e $8.9 milhões em 1996. A margem líquida é obtida simplesmente dividindo os lucros pelas receitas líquidas (ou vendas líquidas), isso significa que nesse período de três anos a margem foi de 6,3% em 1994 para 6,7% em 1995 quando finalmente caiu para 5,1% em 1996. A primeira impressão é que a USA Detergents não é um negócio de margem alta. A empresa fabrica detergentes de lavanderias comuns, com poder de marca questionável, uma desconfiança confirmada pela sua margem. Concluímos assim que os altos Retornos sobre o Patrimônio Líquido não vem de altas margens de lucro. 

Embora a queda do ROE de 1994 para 1995 não tenha sido causada por margens decrescentes, a queda das margens de 1995 para 1996 contribuiu. Valeria a pena nos aprofundarmos nessa questão. Para isso, vamos observar as margens operacionais, um índice que mede os lucros operacionais em relação às receitas. Os lucros operacionais irão nos informar como está a parte operacional da companhia, sem a interferência da mudança das taxas de juros e do pagamento de empréstimos. A USA Detergents obteve lucros operacionais de $9.7 milhões em 1995 e $15.7 milhões em 1996, mostrando um crescimento nas margens operacionais de 9,3% para 9,9% no período. Uma olhada rápida na taxa de juros revela o verdadeiro culpado. De 1995 para 1996 a taxa de juros pulou de 23% para 40%, comendo uma bela parte da margem líquida. Na verdade, os lucros operacionais até cresceram. 

Como a margem líquida ou qualquer outro índice proveniente do Demonstrativo de Resultado não explica a queda, nós pularemos para o lado esquerdo do Balanço Patrimonial, o lado dos Ativos. Giro de Ativos são Vendas divididos pelo Total de Ativos. A USA Detergents tinha $24.5 milhões em ativos em 1994, $40.6 milhões em 1995, e $98.9 milhões em 1996 podemos logo observar que os ativos estão crescendo mais rápido que as vendas. O giro de ativos era de 2,8 vezes em 1994, de 2,6 vezes em 1995 e, em 1996, caiu para apenas 1,8 vez. Olhando mais profundamente na parte dos Ativos do Balanço Patrimonial, o acréscimo nos Estoques e no Contas a Receber parecem ser a causa. O Giro de Estoques (Custo das Mercadorias Vendidas divididos pelo estoque médio durante o ano) caiu de 8,7 para apenas 4,3; dado que a companhia tinha $8.5 milhões em estoque em 1995 e $27.0 milhões em 1996. O Prazo Médio de Recebimento (Vendas sobre o Contas a Receber dividido por 365) também cresceu de 53 para 59. 

Mesmo que a companhia tenha conseguido vender muito, tanto a diminuição do Giro de Estoque quanto o aumento no Prazo médio de Recebimento, significam que a companhia está mantendo cada vez mais dinheiro parado nos estoques e que não está conseguindo receber o dinheiro das vendas de seus clientes de forma eficiente. Um problema típico de firmas pequenas. A USA Detergents parece estar literalmente “caminhando para a falência”, porquê a sua necessidade de Capital de Giro está consumindo os lucros cada vez mais. Lidando com uma necessidade de Capital de Giro cada vez maior, e mantendo um lucro estável proveniente de suas operações, só resta USA Detergents uma alavanca para gerar mais lucros sobre seu negócio: a alavancagem financeira. 

Mudando agora para o lado direito do Balanço Patrimonial, ou Passivos, vemos que as dívidas de longo–prazo subiram de $1.8 milhões em 1995 para $30.8 milhões em 1996. Com o Patrimônio Líquido subindo de $20.3 milhões em 1995 para $41.3 milhões em 1996, isso quer dizer que as Dividas em relação ao Patrimônio Líquido cresceram de 8,9% em 1995 para 74.6% em 1996, um aumento estúpido. O Capital de Terceiros (dívidas sobre dívidas mais patrimônio líquido) subiram de 8,1% para 37,3%, um aumento grande, mas não da mesma magnitude. Qualquer uma das milhares de maneiras existentes de comparar dívidas com uma parte do Balanço Patrimonial levam a mesma conclusão - Em 1996 as dívidas cresceram muito em relação ao Patrimônio Líquido, a partir do momento que a companhia deixou de suprir suas necessidades de Capital de Giro, mantendo seus lucros. 

O número de vezes que os juros foram cobertos em 1996 (Lucros antes dos Juros e Impostos (Ebit) divididos pelo pagamento da dívida) eram ainda de 18 vezes, dado que as despesas com juros eram de $0.9 milhões. O fato é que a administração de ativos estava se deteriorando muito, fazendo com que a companhia ficasse muito exposta a financiamentos externos aumentando seu o risco. Muitos investidores viram que logo depois da publicação do resultado anual, o preço da ação da USA Detergents caiu de cerca de $20 para os $12 atuais, depois que a companhia não conseguiu atingir as expectativas de lucros. 

Olhando a tendência do Retorno sobre o Patrimônio Líquido e analisado seus componentes, o investidor é forçado a olhar o Demonstrativo de Resultados, como também os dois lados do Balanço Patrimonial.




Os 10 Mandamentos do Value Investor

 Coloco aqui um texto retirado do site "Ação e Reação" sobre VALUATION, que sugiro a leitura com atenção:




Os 10 Mandamentos do Value Investor*
Durante a reformulação do terceiro módulo de nosso curso de investimento em ações fomos obrigados a tentar sintetizar os conceitos de "value investment". Como visitantes regulares do site já sabem, trata-se da "escola" de investimento a qual Benjamin Graham deu forma e Warren Buffet prestígio. Acreditamos que seja útil publicar o resultado de nossos esforços.
Note que não há nada revolucionário nestes conceitos. Muito pelo contrário, existem observadores do mercado que acham que são ultrapassados e que uma fortuna nebulosa voando é bem mais interessante do que lucro firme na mão. Tem outros ainda que consideram que se fixar somente em "preço" e "valor" é simples demais e preferem enfatizar elucubrações sobre "beta" e o "CAPM" (Capital Asset Pricing Model).
Na verdade, como outras grandes idéias, os conceitos de value investment são simples mas profundos e, por isso, possuem a capacidade de mudar a concepção das pessoas sobre o que exatamente é o mercado de ações. Vamos lá.


1. Enquanto uma empresa continuar a operar normalmente, ela possui um valor "intrínseco" baseado no potencial do negócio da empresa de gerar e distribuir lucros. Este valor intrínseco não é um valor exato mas uma faixa de possíveis valores que se desloca no tempo. Mesmo assim, em casos onde os resultados passados de uma empresa mostram uma relativa estabilidade de tendência, a faixa pode ser identificada com razoável precisão.


2. A bolsa não é um mecanismo para avaliar ações mas um ente coletivo sujeito às mais variadas emoções. Excetuando as oportunidades de aproveitar de seus momentos de pânico, a bolsa, para o value investor, é simplesmente um lugar onde ele executa suas operações de compra e venda.


3. Assim, ao longo do anos, o valor de uma empresa na bolsa oscila em volta de seu valor intrínseco, em muitos casos divergindo deste valor - particularmente quando a bolsa como um todo está em baixa - durante períodos prolongados. Mas como o mercado de ações é razoavelmente "eficiente" há sempre uma tendência do valor em bolsa voltar, no médio a longo prazo, para o valor intrínseco. São os períodos durante os quais o valor intrínseco excede significativamente o valor em bolsa que oferecem as boas oportunidades de compra.


4. Como não é possível calcular o valor intrínseco de uma empresa com precisão, e como a trajetória futura da empresa é sujeita a uma diversidade de influências, muitas negativas, é importante comprar uma ação quando seu preço oferecer um grande desconto sobre seu valor intrínseco. Esta "margem de segurança" minimizará a chance de perda e maximizar a possibilidade de ganho.


5. Para calcular o valor intrínseco de uma empresa é necessário analisar sua trajetória ao longo de pelo menos 10 e idealmente 20 anos, a fim de estabelecer uma base para projectar os lucros futuros. Devido à grande dispersão de seus resultados, no entanto, muitas empresas não se prestam a este tipo de estudo e devem ser rejeitadas como opções de investimento.

6. Se um investidor possuir o tempo e a perícia para identificar boas empresas com grande capacidade para gerar lucros, e se ele encontrar suas ações à venda a um preço atraente, ele deve investir uma percentagem significativa de seus fundos em cada empresa: tais descobertas são raras e oferecem oportunidades superiores de ganho. Em conseqüência este investidor terá poucas empresas em sua carteira e as manterá durante muitos anos. Como seus investimentos serão concentrados em poucas empresas o investidor deve conhecer estas empresas em profundidade e acompanhar de perto o desenvolvimento de seus negócios.


7. Se, ao contrário, o investidor não encarar seus investimentos como uma ocupação de tempo integral, ele deve enfatizar técnicas para minimizar seu risco. Ele deve concentrar sua atenção em empresas que são proeminentes em seu setor e que apresentam forte posição financeira, vendas substanciais, consistente geração de lucros e dividendos, crescimento razoável, e indicadores preço/lucro e preço/patrimônio líquido moderados. Ele deve estabelecer uma carteira com um mínimo de 10 empresas. Desta forma diversificando o risco, o desempenho médio de sua carteira compensará erros de avaliação ou o impacto de imprevistos no caso de algumas de suas escolhas.


8. Mas, mais importante de tudo, o investidor não profissional deve tomar medidas para evitar pagar caro por suas ações. Ele tem duas alternativas. A mais fácil é simplesmente assegurar preços médios do mercado. Para conseguir isso ele investe, na compra de ações, valores iguais a intervalos regulares (de um mês, um trimestre, ou um ano) ao longo dos anos. Embora o retorno possa aparecer amanhã, este investidor deve pensar num horizonte de investimento de pelo menos 5 anos. É a natural tendência de boas empresas expandirem seus lucros - e estes se refletirem na valorização de suas ações - que fornece a margem de segurança desta abordagem.


9. Na segunda alternativa o pequeno investidor adota uma postura mais ativa. Ele estabelece uma carteira a partir de uma estratégia, entre várias, que tentar identificar ações subavaliadas, baseada em seus indicadores de mercado. Ele pode, por exemplo, só investir em ações cujos indicadores preço/lucro e preço/patrimônio líquido se encontre abaixo de certos limites predefinidos. É o desconto no preço da ação evidenciado pelo desconto nos indicadores que representam sua margem de segurança. Mesmo assim, paradoxalmente, ele não tem nenhuma garantia de obter um retorno adicional como resultado de seus esforços.


10. Seja qual for a técnica adotada, qualquer programa de investimento deve, obrigatoriamente, incluir a aplicação de 50% de seus fundos, em média (e nunca menos de 25%), na renda fixa. Além de fornecer um colchão para emergências, a renda fixa complementa a renda variável, freqüentemente aumentando quando o retorno da renda variável diminui, por exemplo - e vice versa.

É importante entender que omitimos aqui o tratamento dado a um campo especializado, definido por Graham como "situações especiais". Embora o campo, que inclui, por exemplo, oportunidades surgidas de operações da cisão, aquisição e incorporação de empresas, seja atualíssimo no Brasil de hoje, é uma área que necessita de conhecimentos especializados que supomos o leitor não possua.
(15/6/00)