Avaliações baseadas no Lucro
Lucros por ação e o Índice P/L
A forma mais comum de se avaliar uma companhia é através dos lucros. O lucro, ou lucro líquido, é o dinheiro em potencial que sobra depois da companhia pagar toda suas contas. Para comparar “maçãs-com-maçãs”, a maiorias das pessoas que procuram por lucros os avaliam na forma de lucro por ação ou LPA ("Earning Per Share", em inglês).
Para chegar ao valor de lucro por ação simplesmente divida o lucro da companhia pelo número de ações existentes; assim, se a companhia "ABC" possui um milhão de ações e conseguiu lucrar um milhão de reais nos últimos 12 meses, ela possui um lucro por ação passado (“trailing” EPS) de 1,00 real. É chamado de “trailing” EPS porque considera os últimos quatro trimestres publicados – os três trimestres anteriores ao trimestre mais recentemente publicado.
1.000.000,00 de reais
--------------------------------- = 1,00 real de lucro por ação (LPA ou EPS)
1.000.000 ações
Os lucros por ação sozinhos não têm qualquer significado. A maioria dos investidores procura olhar para o lucro por ação em relação ao seu preço, empregando o Índice Preço/Lucro (P/L). O índice P/L pega o preço da ação e o divide pelo lucro por ação dos quarto últimos trimestres. Por exemplo, se a nossa companhia "ABC" estivesse sendo vendida por 15,00 reais por ação teria um P/L de 15.
Preço por ação de 15,00 reais
------------------------------------ = P/L 15
1,00 real em LPA
O P/L é o Cálice Sagrado?
Existe uma grande quantidade de investidores que param de analisar um papel depois de descobrir seu índice P/L. Sem nem querer olhar para qualquer outra forma de “Valuation”, esse grupo de investidores pula fora do ativo cegamente, armados apenas com um único índice, ignorando totalmente a vastidão de formas que constituem a análise fundamentalista. Popularizado por Ben Graham (que usa uma série de outras técnicas além do P/L baixo para encontrar valor), o índice P/L tem sido simplificado demais por aqueles que olham apenas para esse número. Esse tipo de investidor procura por ações de “baixo P/L”, que são companhias que possuem um preço muito baixo em relação aos seus lucros passados.
Também chamado de “múltiplo”, o P/L tem sido mais comumente empregado em comparação com a taxa de crescimento de lucros por ação. Assumimos que uma companhia está próxima de seu preço justo quando o índice P/L é igual à taxa de crescimento de lucros por ação.
No exemplo da Companhia "ABC", descobrimos que a companhia tem conseguido fazer crescer seus lucros a uma taxa de 13% ao ano, sugerindo que a um P/L de 15, a companhia esteja muito próxima de seu preço justo. Bons investidores acreditam que o Índice P/L só faz sentido quando empregado comparativamente com a taxa de crescimento de lucros. Se uma companhia perdeu dinheiro no último ano, ou sofreu um decréscimo em lucros por ação nos últimos 12 meses, o P/L se torna menos útil do que outros métodos de avaliação. No final, o índice P/L não deve ser visto isoladamente, mas sim dentro do contexto do crescimento para evitar que venhamos incorrer em erros.
Ações com baixo P/L são realmente baratas?
Com o advento de filtros computadorizados (“screening”) e de bancos de dados de ações, encontrar ações com P/L baixo tem sido cada vez mais difícil. Quando Ben Graham formulou muitos dos seus princípios de investimento, as pessoas tinham que procurar manualmente por centenas de tabelas de ações para localizar papéis com P/Ls baixos. Hoje em dia, tudo que você tem que fazer é apertar alguns botões de um banco de dados on-line para obter uma lista do tamanho dos seus braços.
Os filtros aumentaram a eficiência do Mercado. Hoje em dia, quando você vê uma ação com P/L baixo, mais do que nunca, elas devem estar merecendo um P/L baixo porquê suas perspectivas futuras são questionáveis. Um investidor inteligente avalia uma companhia baseado nas suas perspectivas futuras e não na sua performance passada, ações com baixo P/L normalmente possuem nuvens negras circulando seu futuro. Isso não quer dizer que você não consiga encontrar ações espetaculares com P/L baixo, que o Mercado não reconheceu ainda – você pode, e acontece toda hora. O que você necessita é confirmar o valor existente nessas companhias aplicando outras técnicas de avaliação.
O PEG e o YPEG
O uso mais comum do P/L é o "PEG", (P/E and growth ratio – ou seja, P/L dividido pela taxa de crescimento de lucros) e o "YPEG", (o P/L estimado para o próximo período dividido pela taxa de crescimento de lucros).
O PEG simplesmente pega a taxa estimada de crescimento de lucro ao ano e compara com o preço da ação no mercado. Uma vez que é o lucro futuro que faz uma companhia ter valor para um comprador ou acionista, procurando por dividendos ou fluxo de caixa livre para recompra de ações no mercado, o resultado acaba sendo intuitivo. Olhar apenas para o P/L passado é como dirigir olhando para o retrovisor.
Se é esperado que uma companhia venha a crescer 10% ao ano pelos próximos 2 anos e ela possui um P/L de 10, então terá um PEG de 1,0.
P/L de 10
--------------------------------- = PEG 1,0
Crescimento de 10% em LPA
Um PEG de 1,0 sugere que a companhia esteja avaliada justamente. Se a companhia no exemplo acima apresentasse um P/L de 5, mas fosse esperada crescer 10% ao ano, teria um PEG de 0,5 – indicando que estaria sendo vendida pela metade (50%) do seu preço justo. Se a companhia apresentasse um PEG de 2,0, estaria sendo vendida pelo dobro do que vale, considerando-se que o P/L deva ser igual a taxa de crescimento de lucro por ação (LPA ou EPS).
Enquanto o PEG é mais empregado em companhias de crescimento (“growth companies”), o "YPEG" é mais utilizado para avaliar companhias grandes, e bem estabelecidas. O YPEG utiliza as mesmas premissas do PEG, mas procura em números diferentes. Como a maioria das corretoras estima a taxa de crescimento para 5 anos, ele é uma estimativa do múltiplo justo para uma companhia no futuro. Assim, se o P/L atual de uma companhia é de 10, mas os analistas esperam que a companhia cresça 20% nos próximos 5 anos, YPEG é igual a 0.5 e a companhia parece estar barata de acordo com essa medida. Como de praxe, devemos olhar o PEG e o YPEG juntos de outras medidas de valor e não considerá-lo como uma máquina mágica de fazer dinheiro.
Múltiplos
Embora o PEG e o YPEG sejam úteis, ambos supõem que o P/L deva se igualar à taxa de crescimento de lucros por ação. Infelizmente, no mundo real não é sempre assim que as coisas acontecem. Muitos apenas olham para a projeção de lucros futuros e estimam que múltiplo justo alguém estaria disposto a pagar pelo papel. Por exemplo, se a companhia "ABC" fosse vendida historicamente a 10x seus lucros e estivesse sendo vendida atualmente por 7x porquê ficou abaixo das estimativas dos analistas naquele único trimestre, seria razoável comprar a ação com a expectativa que ela voltasse ao seu múltiplo histórico de 10x, se a sua queda de lucros naquele trimestre fosse apenas uma anomalia de curto prazo.
Quando projetamos múltiplos justos para uma companhia baseado em lucros futuros estimados, começamos a fazer previsões daquilo que pode acontecer no futuro. Embora possamos pesquisar extensamente, de modo a que o risco de estarmos errados seja mínimo, ele sempre existirá. Se apenas uma das hipóteses que fizermos estiver errada, o papel acabará não indo para o lugar que esperávamos que ele fosse. Dito isso, se a maioria dos investidores e companhias lá fora estiverem empregando a mesma estratégia, fazendo suas próprias estimativas também, na pior das hipóteses não estaremos sozinhos.
Uma modificação na abordagem do múltiplo é determinarmos a relação entre o P/L da companhia e o P/L médio do Ibovespa. Se a companhia "ABC" tem sido comercializada a 150% do Ibovespa, e o Ibovespa está atualmente em 10, muitos investidores acreditam que a companhia deveria estar sendo comercializada a um P/L justo de 15, assumindo que nada mudou. Essa relação histórica requer alguns bancos de dados e planilhas sofisticadas que não são largamente utilizadas por investidores individuais, embora muitos administradores de recursos empreguem essa abordagem.
Os dados fundamentalistas das empresas da Bovespa (P/L, PEG, PSR entre outros) podem ser acessados gratuitamente no site "ComDinheiro".
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